Manifesto furioso para crianças surdas.

Conheci um tempinho atrás a Deaf Kids e pirei imediatamente no que estava escutando, quase não acreditei se tratar de um troço feito mais ou menos na mesma terra de onde saiu a Plastic Fire! É barulhento, é raivoso é maledito: tudo que se pode esperar de uma banda de rock brabo: amém. Nesses tempo de mil bandas pipocando em tudo quanto é buraco, encontrar alguma que cê queira ficar ouvindo e reouvindo é coisa pra se comemorar. (ponto pra Deaf Kids)

Ai, não foi dificil pensar o seguinte:

Eu perco tempo mantendo um blog de rock e nele me proponho a fazer entrevistas esporádicas + A banda é massa, além de ser daqui do Brasil, o que facilita bastante a comunicação; por mais que google translator esteja por ai. = Por diabos eu não trocaria uma ideia com alguém da banda pra publicar nessa birosca?

Ai deu no que deu, troquei uns emails com o Douglas (que foi bem gente fina por sinal) e o resultado editado tá ai pra vocês sacarem, quiçá conhecerem essa pedradinha com a qual perturbarão bastante os seus vizinhos. Reparem que eu possuia zero conhecimento sobre a proposta do rolé quando inventei de trocar esse papo com o cara… o que resultou numa respostas muito fuderosas por parte dele.

Vamos começar

H – O “6 Heretic Anthem for the Deaf”, além de ter um título tr00zera, é bem foda. Como foi que nasceu a criança, assim: do coito ao primeiro choro?

Douglas – por o Deaf Kids ser somente uma pessoa, o processo de criação é bem mais simples. todos os materiais futuros do Deaf Kids já foram criados, assim como a idéia do 6HAFTD já estava sendo alimentada desde o ínicio da banda.

H – A banda é recente, e já lançou o 6 heretic e o “There’s no peace when we’re living in hell” até onde eu sei… mas os dois são curtões. Cês tão em algum corre pra lançar algo mais encorpado?

Douglas – Nós temos mais 3 músicas que foram gravadas junto com as músicas do EP, que vão ser lançadas logo mais, e depois disso, um full, e depois disso, fim. Esse é o plano…

H – Acho muito foda montar projetos assim, com data de validade, meta, planos e tal. Como surgiu essa ideia? Não como surgiu a banda, a ideia.

Douglas – Surgiu pelo fato de eu ter feito muita música em pouco tempo, dae com o tempo fui descartando algumas, fazendo um ‘funil’, e o que sobrou eu dividi elas por álbuns (demo, EP, full, possível split, etc). E assim eu vi que tudo que eu quero fazer com a banda já estava ali, pronto!

H – Tem noção de quanto tempo foi este “pouco tempo”?

Douglas – uns 7 meses, desde o ínicio, talvez! Ahhaha

H – Como foi o processo de “pós produção” das gravações? Do estúdio até eu sacar o som na minha casa, quem mixou, masterisou, lançou etc etc etc…

Doulgas – O som foi mixado e masterizado pelo André Leal e Kleber Mariano (os mesmos da demo) no Estúdio Jukebox, até então vai ser lançado pela Coletiva Discos de RJ entre outros esquemas. Ainda não foi lançado fisicamente, estamos querendo dar um corre maior pra lançar em 7”, vamos ver se rola!

H – Existe a possibilidade de acabar surgindo algo mais do Deaf Kids depois destes planos, o que na minha opinião teria de ser feito com muito cuidado pra não virar bagunça, ou seria cedo demais pra falar de uma continuidade/de um retorno antes do limiar do fim?

Douglas – Eu acho que não existe a possibilidade de surgir algo depois disso tudo, talvez antes sim! Músicas novas não terão mais, quanto a shows nunca se sabe né.

H – As letras; títulos; encartes e toda a parte gráfica dos materiais da banda possuem uma pegada toda trabalhada no nilismo e heresia: até onde vai esse rolé?

Douglas – As letras; títulos, encartes e etc são idéias/ponto de vista/sentimentos de uma pessoa expressados através do Deaf Kids. Portanto, esse role continua até o fim da banda.

H – Mas em que grau de profundidade se encontra isto? Não é dificil encontrar gente fazendo música sobre o que não acredita, ou o que não vive. Sem querer ser polícia de pensamento, mas já sendo.

Douglas – Se encontra no mesmo grau do qual eu me encontro diante da sociedade; pessoas; sistema; a vida que estou inserido. Tudo que está nas letras do Deaf Kids é sobre as coisas que sinto e vivencio in/diretamente das quais eu vejo uma necessidade de me manifestar ou de compartilhar. É o meu manifesto.

H – Cê pode falar um pouco sobre como compõe, tanto as músicas quanto as letras?

Douglas – Eu crio os riffs de guitarra, de baixo e a bateria na minha cabeça. O único “ruim” é que só posso ver o resultado final da música depois de gravada, pois o Deaf Kids só ensaia quando tem show. quanto as letras acho que eu respondi ali em cima hehe

H – Não sei se eu tenho entrado mais nisso de uns tempos pra cá ou se tá tendo uma pequena leva de bandas mais obscuras e malvadas que se levam um pouco a sério recentemente. Vocês percebem isto também?

Douglas – Desculpe, não sei te responder sobre isso! (tranquilo champs)

H – E falando em bandas que se levam a sério: quais merecem alguma atenção ai no RJ, bandas realmente envolvidas nos corres, bandas com propostas sérias etc?

Douglas – Vou citar algumas: Desistä, O Vazïo, Homem Elefante, Ayllu, The Alchemists, Corpo sem Orgãos, Elasticdeath, entre outras! 

H – Quer falar um pouco sobre elas ou deixa para a habilidade dos leitores em usar o google?

Douglas – Eu diria que vale muito a pena procurar ouvir todas elas!

H – Além do Deaf Kids, com o que mais, dentro do underground, vocês estão envolvidos? Bandas, squats, distros, coletivos e outros infernos.

Douglas – Eu e todo mundo que participa/participou da banda estamos envolvidos diretamente com bandas (Lifelifters (recomendo), O Mito da Caverna, Narayama, Homem Elefante, Elasticdeath), coletivos e etc.

H – Sei que a LifeLifters também é um coletivo, quais; mais especificamente são as outras atividades com os quais as pessoas estão envolvidas?

Douglas – Até onde eu sei, nenhuma mais.

Deaf Kids no Estúdio Noise Terror

H – Se eu bem entendi as respostas, a Deaf Kids é bem One Man’s Band contudo, meio que precisa de outras pessoas. Manter um projeto com uma pessoa só como centro da coisa é bem diferente da grande maioria dos projetos de banda: como funciona? Assim, no lidar com as outras pessoas que acabam entrando para dar o suporte, acaba todo mundo meio que sendo músico contratado ou so entrou por que as ideias batem 100%?

Douglas – Todo mundo que tocou e toca comigo até hoje eu conheci e criei uma amizade através do Deaf Kids, ou entraram em contato comigo ou eu conheci nos rolês. Daí desde as formações variam de acordo da disponibilidade deles. Acredito que entraram porque as idéias batem 100%, principalmente no sentido da amizade.

H – Já que este blog aqui também possui um toque meio artístico, prum lado digamos “mais pesado” da arte: vocês possuem algum envolvimento com esse mundo, ou algo que curtam muito pra recomendar? Assim, da calcogravura à Happenings Online.

Douglas – Eu recomendaria os filmes Begotten (o qual eu já postei inteirinho aqui), Eraserhead, The Seventh Seal(Bergman rules!), Un Chien Andalou… Eu particularmente não sou envolvido com esse mundo da arte. O Angu que toca baixo é professor de artes, inclusive.

H – Algum plano de dar um giro no BR, ou por fora dele? Além disso: Como é o esquema por ai, quem toca, onde toca, de quanto em quanto tempo, pra quantas pessoas…

Douglas – Sim, tanto em BR quanto fora. Estamos pra fechar uns roles em brasília e uma tour pelo nordeste logo mais. Não existe uma formação fixa, já tocaram com o Deaf Kids até então: Angu, Robinho, Mariano e Nico. A gente toca em qualquer lugar. Deaf Kids não faz shows frequentemente e o público é sempre variado, impossível dizer pra quantas pessoas.

H – Rock in Rio?

Doulgas – …

Lol

H – Você espera alguma coisa com isso, ou são simplesmente palavras jogadas? Não que alguma banda de hardcore ou similar vá mobilizar uma revolução mundial.

Douglas – É fudido quando as pessoas se identificam com aquilo que você tá se expressando, seja com as letras, seja com a música, seja com as artes, seja com o conjunto. Por o conteúdo da banda não ser simplesmente palavras jogadas, essa identificação já significa muita coisa pra mim. Seja de uma pessoa, seja de várias, (principalmente as pessoas fora do punk/hardcore), acho que o meu “objetivo” como esta banda já está feito.

H – Como a banda Começou?

Douglas – Eu fiz as músicas, gravei a primeira demo em um esquema com meu irmão e um amigo (Kleber) que na época trabalhavam em um estúdio. Gravamos a bateria lá e o resto na casa do Kleber (e hoje eles tem o próprio estúdio). Eles ajudaram bastante e foram cruciais para o começo da banda. Quando a demo foi divulgada, algumas pessoas entraram em contato comigo, hoje todos grandes amigos. Um deles foi o Angu, que se interessou em tocar baixo na banda, um tempo depois o Robinho entrou na bateria, começamos finalmente a ensaiar e assim foi.

H – Você teria algo dizer para os, poucos porém valiosos, leitores deste blog, algo como mais um trecho de manifesto?

Douglas –

“Por que temos uma consciência?
Para abandona-la sempre em favor de regras e controle?
Acho que devemos ser homens primeiro, e depois súditos.
A única obrigação que tenho o direito de assumir
é fazer a qualquer momento o que eu considero certo, sem arrependimentos.”

Henry D. Thoreau

H -Eu, por dar valor ao projeto, gostaria de agradecer pela disposição em responder o bagulho aqui.

Douglas – E eu te agradeço mais ainda pelo interesse nessa entrevista e pela banda, muito obrigado!